Carta de julho, 2014

Pére Jacinto Farias

Caros amigos,

Saúdo-vos cordialmente, desejando de todo o coração que esta mensagem vos encontre todos bem, nas vossas diversas actividades, nas quais procurais realizar, em casal e em família, o pensamento de Deus a vosso respeito, que pensou em cada um de vós desde toda a eternidade. É verdadeiramente confortante para nós este olhar da fé que nos ensina que o pensamento e o amor de Deus nos precedem.

Hoje é muito problemático falarmos do amor, uma palavra que se esgotou no sentido dinâmico e original que está na sua origem. Mas nós queremos ter a ousadia de continuar a insistir neste tema, sobretudo no contexto da nossa vocação esponsal e nupcial. Bento XVI recorda-nos que somos salvos, não pela ciência, mas pelo amor, o amor que nos precede e que encontra no Coração de Jesus a sua mais sublime expressão.

Na literatura poética e na tradição mística fala-se da ferida do amor. Isto quer dizer que se dá uma profunda e misteriosa relação entre sofrer e amar. De facto, sofrer sem o amor leva à frustração e ao desespero; mas amar sem sofrimento não passa de exploração do outro reduzindo-o a simples objecto de prazer. O amor que nos salva, e que se aprende na escola do Coração de Jesus ferido de amor, é o amor oblativo, o amor que se manifesta na fidelidade e na disponibilidade para a entrega ao outro até ao ponto de ser capaz de dar a vida por ele.

Devemos questionar-nos sobre o motivo pelo qual amamos ou queremos bem a alguém: porque somos bons ou porque os outros são possuidores de uma bondade que nos atrai?

O amor evoca a inclinação para o outro que nos atrai pela sua bondade. Então precisamos de estar atentos para reconhecer a bondade dos outros e procurarmos respeitá-la, e é neste respeito que se manifesta o amor, pelo qual queremos bem ao outro pelo bem que ele mesmo é.

O Papa Francisco dedica dois números da Lumen fidei ao casal e à família, nos quais nos diz que a relação esponsal tem muita similitude com a dinâmica da fé:

«homem e mulher podem prometer-se amor mútuo com um gesto que compromete a vida inteira e que lembra muitos traços da fé: prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um desígnio maior que os próprios projectos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada» (Lumen Fidei 52).

Vivemos num tempo em que parece que estas palavras não encontram aplicação, pois hoje as pessoas têm dificuldade em se comprometerem numa relação que tenha em si mesma a nota da vida inteira, até que a morte as separe; hoje as pessoas têm medo ou sentem-se incapazes de «dar o futuro inteiro à pessoa amada». Mas, como Jesus nos diz, o que é impossível ao homem é possível a Deus e é desta possibilidade divina, que é a graça do sacramento do matrimónio, que os casais cristãos são enviados a dar testemunho; a dar testemunho da alegria da doação do futuro à pessoa amada, a doação que verdadeiramente salva. Ser testemunha desta alegria, aqui está a missão e o carisma do nosso Movimento.

Saúdo-vos cordialmente e com muita amizade no Senhor, implorando para todos vós a abundância das graças e das bênçãos de Deus.

P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Conselheiro Espiritual da ERI.


 → Como diz o Papa Francisco, «comunicar bem ajuda-nos a aproximarmo-nos e a conhecermo-nos melhor uns aos outros»