CARÍSSIMOS EQUIPISTAS,
«Duras são estas palavras, quem as pode escutar?» (Jo 6,60), foi a reacção de muitos discípulos quando Jesus, depois da multiplicação dos pães, disse que Ele é o verdadeiro pão que alimenta para a vida eterna. Num na clara alusão à Eucaristia, Jesus diz que a sua carne é verdadeira comida, que o seu sangue é verdadeira bebida. Na lógica do evangelho de S. João este discurso de Jesus sobre o pão da vida percebe-se melhor se nos recordarmos que Jesus é a Palavra de Deus incarnada (Jo 1,14), a única e definitiva Palavra que Deus diz à humanidade. A reacção dos discípulos é porque não conseguem entender que a Palavra de Deus – a Lei e os Profetas – agora se configura na pessoa de Jesus que fala na comunidade dos seus discípulos. Ele mesmo é e dá a Palavra de Deus da qual o homem deve viver mais do que do alimento que perece: nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus». Os judeus sabiam isto; eles levavam o primeiro mandamento – ‘escuta, Israel’ (Dt 6,4) – diante dos olhos, como luz, e como manípulo no braço. Mas quando Jesus diz que a Palavra que alimenta já não é nem a Lei nem os Profetas, mas Ele mesmo em pessoa; que o lugar da escuta é a comunidade dos discípulos, tais palavras são «duras» de entender porque exigem uma conversão completa: «agora» amar a Deus sobre todas as coisas significa seguir Jesus que nos conduz a Deus. Ele é em pessoa o rosto visível de Deus. Mesmo se é possível adorar a Deus em espírito e verdade em toda a parte, é na comunidade dos seus discípulos, a Igreja, que encontramos o lugar onde Ele está presente, mesmo se dorme durante as grandes tempestades da história e da vida pessoal de cada um. Tudo isto soava de um modo demasiado estranho aos ouvidos de muitos dos discípulos e por isso se afastaram e já não estavam com Ele. Foi então que Jesus perguntou aos restantes, os Doze: «E vós, também quereis ir-vos embora? Mas Pedro, em nome de todos, disse: Para onde havemos de ir, Senhor? Vós tendes palavras de vida eterna!… » (Jo 6,67-68).
Estas palavras são duras também hoje, tal como foram naquele tempo. Para Jesus mesmo na hora da sua paixão: Abba, tudo Te é possível: afasta de mim este cálice! No entanto, não se faça o que eu quero, mas o que tu queres!» (Mc 14,36) Duras são as palavras de Jesus repetidas por S. Paulo – «E os dois formarão uma só carne» (Mc 10,8) – em referência ao casamento entre os discípulos de Cristo, texto que é a base da Escritura para a afirmação da indissolubilidade do matrimónio sacramental (Ef 5,31-32). Segundo o apóstolo e iluminado pelo mistério de Cristo e da Igreja, pelo casamento o corpo do marido é a esposa e a cabeça da esposa é o marido. A mulher é o coração do marido, vivendo em recíproca submissão, porque a obediência recíproca, que é a essência da relação entre os cristãos (cf. Ef 5,21), somente é possível entre pessoas que se amam. Amar é ser capaz de se dar na perfeição do amor que é o perdão. Amar e sofrer são idênticos. O amor humano, mesmo transfigurado pela graça, é um amor crucificado. Estas palavras são verdadeiramente duras, mas elas têm a doçura do amor.
Na medida do possível e com o auxílio da graça do Senhor, façamos nossas as palavras de Pedro: «Para onde havemos de ir, Senhor? Vós tendes palavras de vida eterna!» Não vos esqueçais disto na vossa oração conjugal e sobretudo no vosso «dever de sentar».
Saúdo-vos a todos muito cordialmente no Senhor. Não vos esqueçais de rezar por mim; eu faço o mesmo por vós.
P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj.
Conseiller Spirituel de l’ERI.