Carta de abril, 2016

Pére Jacinto Farias

Caríssimos Equipistas,

Estamos a viver em pleno o ano santo da Misericórdia que, em boa hora, o Papa Francisco teve a inspiração de propor a toda a Igreja.

Como sabeis, não é a primeira vez na história que a Igreja recorda aos seus filhos a misericórdia de Deus. Nos finais do séc. XVII foi Santa Margarida Maria Alacoque que recebeu a revelação do Coração de Jesus, cheio de bondade e misericórdia para com o pecador, apelando à reparação, ou seja, a reconhecer que existimos, porque um amor nos precede. Aí teve origem a devoção ao Coração de Jesus, com a prática das primeiras sextas-feiras (confissão sacramental, comunhão reparadora e adoração eucarística, durante meia hora, nas primeiras sextas-feiras durante 9 meses seguidos), que imprimiu um ritmo intenso de renovação, que marcou a Igreja até ao concílio Vaticano II. A meados do séc. XX foi Santa Faustina Kowalska, que transmitiu à Igreja a espiritualidade da misericórdia, que retoma a devoção ao Coração de Jesus, mas agora na forma do Senhor Ressuscitado. Trata-se de uma espiritualidade simples, como simples é a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, agora com o terço da misericórdia às 15h, em memória da Paixão do Senhor, e a celebração do dia da misericórdia, o segundo domingo da Páscoa, que S. João Paulo II instituiu.

Atento aos tempos difíceis que então se viviam, S. João Paulo II publicou a sua grande encíclica trinitária – Rico em Misericórdia (30.11.1980) -, na qual recorda ao mundo cristão que a misericórdia é um atributo divino: Deus compadece-se, comove-se, enche-se de compaixão perante o estado do homem que se sente infeliz, miserável e desprezível. Mesmo nesta condição, Deus não desiste do homem, criado à Sua imagem e semelhança, pelo qual enviou o Seu Filho, que o amou/ama, até à última gota de sangue: «ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15,13).

O Papa Francisco tem feito da misericórdia o lema do seu pontificado e não se casa de insistir nesta nota divina: Deus não desiste do homem, do homem pecador, tantas vezes mergulhado em sentimentos de infelicidade, de miséria (material, moral, espiritual) que faz com que se sinta desprezível, indigno de ser amado.

Mas tudo isto precisa de ser traduzido na vida. Não basta reflectir; é necessário viver e celebrar. Por isso é que, no pensamento dos Papas mais recentes, é preciso revitalizar nos cristãos a frequência da confissão sacramental: é necessário escutar a palavra eficaz do perdão, que é muito mais do que desculpabilização. O perdão é o sinal do amor que não desiste daquele que é amado; é querer bem ao outro por aquilo que ele é e não por aquilo que pode dar, especialmente quando pensa que não vale nada, já não se sente digno de ser chamado filho, como na bela parábola do Filho pródigo (Lc 15).

Pois o meu desejo é que todos vós, tanto no dever de sentar como na oração pessoal e conjugal, cultiveis este sentido da misericórdia, amando-vos mutuamente com aquele amor que quer o bem do outro por aquilo que ele é, e não por aquilo que lhe pode dar. E, correspondendo ao apelo da Igreja pela voz do Papa Francisco, no vosso retiro anual ou noutra ocasião, celebrai o sacramento da confissão, escutai aquela palavra do perdão, que cura verdadeiramente todas as feridas da alma e do coração e não deixa cicatrizes.

Que o Senhor a todos vos abençoe e proteja.
Com muita amizade,

P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj
Conselheiro Espiritual da ERI


 Que belo exemplo de fé cristã temos no Papa Francisco!

Helena e Paul McCloskey, ERI – Casal de Ligação para a Eurásia