Carta de Julho 2016

Pére Jacinto Farias

Caríssimos Casais,

Espero que cada um de vós se encontre bem ao receber esta minha carta que, como sempre, escrevo pensando em cada um de vós, bem representados naqueles que já tive a graça de encontrar nos encontros internacionais. Como tem sido gratificante para mim poder testemunhar nesses encontros como viveis com entusiasmo em casal e em família, testemunhando a «alegria do amor» de que nos fala o bom Papa Francisco.

A «alegria» é a expansão do coração (cf. Amoris Laetitia 126) de quem sabe que é amado, no sentido, de ser acolhido, de ser aceite pelo que é, gratuitamente, e não por aquilo que possa dar. Já o antigo filósofo Aristóteles dizia que a amizade consiste em querer bem ao outro por aquilo que ele é e não por aquilo que pode dar. S. Tomás de Aquino toma esta definição e expande-a; e o magistério recente, de Paulo VI ao Papa Francisco, vê nesta dimensão gratuitamente oblativa o que há de mais profundamente verdadeiro no que podemos entender e viver como amizade, como amor (cf Amoris Laetitia 101-102).

O matrimónio cristão tem como fundamento a relação dos esposos que se amam, isto é, que se querem bem, por aquilo que são e não por aquilo que podem dar. O sacramento purifica o amor humano, que tem em si já a marca da eternidade, do definitivo (cf. Amoris laetitia 123), e eleva-o a sinal do amor entre Cristo e a Igreja: o esposo representa Cristo e a esposa representa a Igreja. Claro que é uma analogia imperfeita (cf. Amoris laetitia 73), pois o amor humano precisa de ser continuamente purificado e alimentado, para que possa crescer; mas a analogia recorda-nos que não há amor sem sacrifício, sem sofrimento, sem a cruz: todo o amor verdadeiro é um amor crucificado.

Mas é daqui que brota a «alegria», mesmo a «alegria» do amor, que era o distintivo dos cristãos nas comunidades primitivas – viviam na alegria e simplicidade de coração (Act 2,46) -, e a maior parte eram casais, famílias, que viviam a sério, no meio de um mundo adverso e pagão, a sua vocação de esposos e de pais. Como bem nos recorda o bom Papa Francisco, a paternidade e a maternidade estão inscritas na nossa natureza humana de homens e de mulheres criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Amoris laetitia 9). S. João Paulo II falava da «dimensão esponsal do corpo», para dizer que nós estamos orientados uns para os outros; que não podemos viver uns sem os outros; que os outros não podem ser vistos como um peso, como um perigo, como uma fadiga, mas sim como um dom, como uma dádiva divina. Nas suas catequeses sobre a teologia do corpo, S. João Paulo II falava a urgência de vermos toda a realidade e muito especialmente os outros, à luz de uma «hermenêutica do dom».

Caríssimos casais, unidos pelo sacramento do matrimónio, esta é a vossa «vocação e a vossa missão». O Papa Francisco convida-vos como casais a vos reconhecerdes como um dom, que Deus pensou e preparou para cada um de vós desde toda a eternidade (cf. Amoris laetitia 72). Sois um dom um para o outro e ambos para os vossos filhos; sois um dom de Deus que assim manifestou o modo admirável como vos ama, por aquilo que sois; porque amado por Deus, cada um de vós é um bem para o próprio Deus, cujo amor vos precede.

Fazei, caríssimos casais, destes pensamentos, tema do vosso dever de sentar. Sede fiéis à mística do nosso Movimento, os pontos concretos de esforço, pois são um dom de Deus à Igreja que assim faz dos Casais e do nosso Movimento um sinal de esperança, porque mostram pelo testemunho de vida que é possível viver a «alegria do amor».

P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Conseiller Spirituel de l’ERI


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Françoise e Rémi GAUSSEL, Casal da ERI comunicação e Juventude